sexta-feira, 15 de março de 2013

Jorge Calheiros - Versos para Uma Semana





O maior expoente da literatura de cordel do estado de Alagoas, Jorge Calheiros, lançou hoje coletânea de versos titulada "Versos para uma semana". Foi uma solenidade que ocorreu no Museu da Imagem e do Som de Alagoas.

Ele declamou seus próprios versos enaltecendo o povo do povoado em que nasceu, Pilar, assim como outros cordelistas também declamaram suas maravilhosas poesias.

Jorge explicou que não é letrado, mas que aprendeu a escrever com sua irmã mais velha que lhe ensinava após as aulas do colégio e escrevendo com carvão no chão de sua residência.

Noite muita valorosa para o cordel de Alagoas.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Antes do Tempo


MINHA FILHINHA NASCEU ANTES DO TEMPO. SOFRE COM ISSO. SEU PSICÓLOGO ME PEDIU PARA AJUDAR EXPLICANDO A ELA QUE ISSO É NORMAL.

DESESPERADO COM O SEU SOFRIMENTO INTERIOR ESCONDIDO PELO SEU SUPEREGO NÃO CONSEGUI.

A ÚNICA COISA QUE ME RESTOU FOI FAZER-LHE UM CORDEL.

FI-LO. NEM SEQUER CORRIGI. PU-LO AQUI.


Meu leitores mirins
Vou contar sobre a vida
De uma criança linda
Que nasceu espremida
Achando que era diferente
Sentindo-se desvalida.

Era uma noite de lua linda
Poucas nuvens no céu
O dia de nascimento
De Maria Ana Isabel.
Sua mãe foi ao hospital
Com dor pra dedéu.

O médico explicou a mãe
Que antes do tempo viria
Aquela pequena moça
Antes da hora nasceria.
Iria passar um tempo
Na UTI sem alegria.

A mãe então perguntou:
- Mas ela será normal?
O médico respondeu:
- Sim, crescerá sem ingual
Será uma moça linda
Inteligente, fenomenal.

A mãe preocupada disse:
- Quanto tempo vai ficar
Sem ir para nossa casa
E sem poder mamar?
O médico respondeu:
- O tempo não vai importar.

Quando acontece isso
É bonito de se ver
Porque a criança cresce
Não deixa de aprender
Estudo matemática
E vai poesia aprender.

A mãe pensando disse:
- E como pode ser isso?
O médico respondeu:
- Mãe, calma, deixa disso
A natureza é sábia
E não dorme em serviço.

A criança vai comer
E forte vai ficando
Ela vai estudar muito
A dificuldade superando
Quando menos espera,
Sua história vai contando.

A mãe disse assim:
- Muito obrigado doutor,
Assim ficarei feliz
Acabou-se o meu temor
E quando ela crescer
Será meu maior amor.

E o que direi a Isabel
Quando ela crescer
E for me perguntar
Sobre o seu nascer?
Eu digo que foi normal
Ou o que houve, posso dizer?

O médico então lhe disse:
- Diga que ela nasceu
Antes do tempo certo
Mas que lutou e venceu
Tomou leite na seringa
Mas nada ruim lhe ocorreu.

E assim acaba história
Da menina que Isabel
Contada bem linda
Num belíssimo cordel.
Acho que mereceria
Uma presente de troféu.

Nunca se ouviu falar
Que alguém assim
Tenha sofrido algo,
Ou tenha tido mal fim,
Cresce como todo mundo
Em nada fica ruim.

A vida é muito sábia
A todos dá um dom,
Jamais deixaria só
Quem nasceu fora do tom.
Você pode confiar
Porque Deus é muito bom.

terça-feira, 12 de março de 2013

Aposentadoria de Puta



Aposentadoria de puta

Faço aqui um cordel lindo
Que veio de um sorriso
Do entrevistador Jô
E de Chico Anísio
Cômica entrevista
Que eu aqui suavizo.

Não é estória real
Trata-se de uma lorota
Porém muito curtinha
Parecendo chacota
Sem muita demora
Vamos a anedota.

Uma nobre senhora
Vendo aposentadoria
Foi ao posto fiscal do INSS
Esbanjando alegria
Calada e quietinha
Sem fazer estripulia.

O fiscal do imposto
Chamou sem demora.
Ela toda entrevada
Levantou-se na hora
Ai foi que ele viu
Era uma pobre senhora.

O fiscal separou
Uma pilha de papéis
Para investigação
Da cabeça até os pés
D’aquela senhora
Toda cheia de anéis.

Iniciou a entrevista
Perguntando a função.
Ela respondeu: - Puta!
Ele ficou sem ação,
Perguntou novamente
E ouviu com atenção.

- Puta meu filho, puta!
Respondeu sem demora
Mas como poderia
Tão singela senhora
Puta a vida toda
Também n’aquela hora.

O fiscal continuou
Sem perder compostura
Olhou atentamente
Viu até dentadura
Mas seu árduo trabalho
Exigia linha dura.

A próxima pergunta
Era mesmo sem igual:
- Em qual posição ficou?
E perguntou na moral.
Ela respondeu na hora:
- Horizontal, vertical ...

Ela quis esclarecer:
- Filho, nesta profissão
Agente não escolhe
Quem manda é o patrão
Agente não reclama
Nem rejeita posição.

Ele resolveu gritar
Ainda outra pergunta:
- Profissão da família?
No susto ela ficou junta:
- Não me dê uma bronca
Se não viro presunta.

Para não deixar em branco
Ele resolveu insistir.
E ela sem demora
Começou a se sacudir:
- Meus pais professores
E eu a me prostituir.

Fiscal disse: - E seus pais?
Deve ter sido morte!
Ela então respondeu:
- Não! Eu fui muito forte
E nem todo mundo
Tem essa minha sorte.

- Quando começou a dar
À sua contribuição?
Preciso agora saber
Pra iniciar petição
Se algo não me disser
Aposentadoria não.

Ela não se lembrava
Quando emputeceu
Estava muito velhinha
Data certa esqueceu
Tentou lembrar muito
Porém, a data não deu.

- Para receber pensão
Deveria sempre ter dado.
- Meu filho assim o fiz
Sem nunca ter vacilado
É só você analisar
Todo meu passado.

- Olhe! Assim não tem como,
Para aposentadoria
É necessário pagar
Pra ter essa regalia.
Se isso nunca o fez
Não agiu com sabedoria.

- Eu queria dar conselho
Procure a televisão
Conte sua estória
Não sinta humilhação
Certeza não ficará
Só num aperto de mão.

- Isso eu já fiz uma vez
Me mandaram ao congresso
Eu fui lá correndo
Mas não tive sucesso
Não me deixaram entrar
Nem comprei ingresso.

- O jeito pra senhora
Seria se candidatar
E lá, na política
Uma arrumação tentar
Agindo sem demora
Para se aposentar.

- Entrar na política
Onde só tem ateu
Nunca vão me ajudar
Porque é tudo judeu
Nunca serei feliz
Lá só tem filho meu.

A vovó não conseguiu
Ficar aposentada
Nem foi ao congresso
Fazer suas trapalhadas
Mudando constituição
Resolveria a parada.

Foi com felicidade
Agora que acabei
Aqui o nosso cordel
Entrevista relatei
Eu peço mil desculpas
Se alguém desacatei.

Caso você conheça
Alguém na situação
Mande me localizar
Escrever a petição
Quem sabe nós possamos
Mudar constituição.

terça-feira, 5 de março de 2013

O soldado Jogador - Leandro Gomes de Barros


Era um soldado francês
Que se chamava Ricarte
Jogador de profissão
E nunca foi numa parte
Que não trouxesse no bolso
O resultado da arte.

Os franceses nesse tempo
Tinham por obrigação
O militar ou civil
Seguir religião
O Papa deitava a lei
Botava em circulação.

Ricarte, soldado velho
Com trinta anos de tarimba
Aonde ele achava jogo
De lasquinê ou marimba
Dizia logo: ─ Eu vou ver
Água na minha cacimba!

Um dia faltou-lhe o soldo
Pôs-se Ricarte a pensar
Onde podia haver jogo
Que ele pudesse jogar
Era Domingo e a missa
Não havia de tardar.


Se você quiser saber como termina esta obra de Leandro então acesse:

http://www.scribd.com/fullscreen/7024455?access_key=key-101fb67s4x8wjbxvuia5