segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

História da Donzela Teodora - Parte II



Leandro Gomes de Barros

Atrás do bem vem o mal
Atrás da honra a torpeza
Quando ele saiu de casa
Levava grande riqueza
Voltou trazendo somente
Uma extrema pobreza

Só via em torno de si
O vil manto da marzela
Em casa só lhe restava
A mulher e a donzela
Então chamou Teodora
E pediu o parecer dela

Disse ele: minha filha
Bem vês minha natureza
E sabes que o oceano
Espoliou minha riqueza
Espero que teus conselhos
Me tirem desta pobreza

Ela quando ouviu aquilo
Sentiu no peito uma dor
E lhe disse, tenha fé
Em Deus nosso salvador
Vou estudar um remédio
Que salvará o senhor

E disse: meu senhor saia
Procure um amigo seu
É bom ir logo na casa
Do mouro que me vendeu
Chegue lá converse com ele
E conte o que lhe sucedeu

O que ele oferecer-lhe
De muito bom grado aceite
E veja se ele lhe vende
Vestidos que me endireite
Compre a ele todas as jóias
Que uma donzela se enfeite

Se o mouro vender-lhe tudo
Com que possa me compor
Vossa mercê vai daqui
Vender-me ao rei Almançor
É esse o único meio
Que salvará o senhor

El-rei lhe perguntará
Por quanto vai me vender
Por dez mil dobras de ouro
Meu senhor há de dizer
Quando ele admirar-se
Veja o que vai responder

Dizendo alto senhor
Não fique admirado
Eu vendo-a com precisão
Não peço preço alterado
Dobrada esta quantia
Tenho com ela gastado

É esse o único meio
Para a sua salvação
Se o mouro vende-lhe tudo
Descanse seu coração
Daqui para o fim da vida
Não terá mais precisão

O mercador seguiu tudo
Quando a donzela ditava
Chegou ao mouro e contou-lhe
O desespero em que estava
Então o mouro vendeu-lhe
Tudo quanto precisava

Roupa, objetos e jóias
Para enfeitar a donzela
As roupas vinha que só
Sendo cortada pra ela
Ela quando vestiu tudo
Parecia ficar mais bela

O mercador aprontou-se
E seguiu com brevidade
Falou ao guarda da corte
Com muita amabilidade
Para deixá-lo falar
Com a real majestade

Então subiu um vassalo
Deu parte ao rei Almoçor
O rei chegou a escada
Perguntou ao mercador:
— Amigo qual o negócio
Que tem comigo o senhor?

Então disse o mercador
Sem grande humildade:
— Senhor venho a vossa alteza
Com grande necessidade
Ver se vendo esta donzela
A vossa real majestade

O rei olhou a donzela
E disse dentro de si:
Foi a mulher mais formosa
Que neste mundo já vi
Trinta ou quarenta minutos
O rei presenciou ela ali

Perguntou ao mercador:
Por quanto vendes a donzela?
Por 10 mil dobras de outro
É o que peço por ela
E não estou pedindo caro
Visto a habilidade dela.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

História da Donzela Teodora - Parte I



Leandro Gomes de Barros

Eis a real descrição
Da história da donzela
Dos sábios que ela venceu
E a aposta ganha por ela
Tirado tudo direito
Da história grande dela

Houve no reino de Túnis
Um grande negociante
Era natural da Hungria
E negociava ambulante
Uma alma pura e constante

Andando um dia na praça
Numa porta pôde ver
Uma donzela cristã
Para ali se vender
O mercador vendo aquilo
Não pôde mais se conter

Tinha feição de fidalga
Era uma espanhola bela
Ele perguntou ao mouro
Quanto queria por ela
Entraram então em negócio
Negociaram a donzela

O húngaro conheceu nela
Formato de fidalguia
Mandou educá-la bem
Na melhor casa que havia
Em pouco tempo ela soube
O que ninguém mais sabia

Mandou ensinar primeiro
Música e filosofia
Ela sem mestre aprendeu
Metafísica e astrologia
Descrever com distinção
História e anatomia

Ela que já era um ente
Nascida por excelência
Como quem tivesse vindo
Das entranhas da ciência
Tinha por pai o saber
E por mãe a inteligência

Em pouco tempo ela tinha
Tão grande adiantamento
Que só Salomão teria
Um igual conhecimento
Cantava música e tocava
A qualquer um instrumento

Estudou e conhecia
As sete artes liberais
Conhecia a natureza
De todos os vegetais
Descrevia muito bem
A castra dos animais

Descrevia os doze signos
De que é composto o ano
Da cabeça até os pés
Conhecia o corpo humano
E dava definição
De tudo do oceano

Admirou todo mundo
O saber desta donzela
Tudo que era ciência
Podia se encontrar nela
O professor que ensinou-a
Depois aprendeu com ela

Mas como tudo no mundo
É mutável e inconstante
Esse rico mercador
Negociava ambulante
E toda sua fortuna
Perdeu no mar num instante

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

O Ateu Trajano - Parte IV



A luz do dia se apagou
Começou uma escuridão
Bem em sua frente surgiu
A personificação
Do eterno mal absoluto,
Do anjo expulso do céu: o cão.

E o satanás foi dizendo:
- Olhe tudo ao teu redor
Ouro, dinheiro, poder
O céu, a terra, o cafundó
O mundo, o sol e as estrelas.
Tu nunca estarás só.

Tudo que tu precisares
Basta somente bramir
E na hora que tu quiseres
Eu farei tudo por ti
Se ajoelhe neste instante
E comece a me pedir.

Ficando de joelhos disse:
- Deus, pai, todo poderoso
Sempre neguei tua existência
Seja misericordioso
Levante minha mulher
Tire a vida deste esposo.

Neste instante de fé
Uma luz do céu foi caindo
Envolveu aquela mulher
Depois foi lhe restituindo
Toda força que perdeu
E que dela já ia partindo.

Trajano escuta uma voz
Bem distante lá no céu:
- Trajano, nunca repita
Este horroroso papel
Procure sempre ter fé
Seja de Deus um menestrel.

Criei tudo da humanidade
Para viver em comunhão,
Deixei-lhes o livre arbítrio
Pra tomarem decisão
De continuarem no mundo
Acreditando em mim ou não.

Quando você não quiser
Uma igreja frequentar
Mas mesmo assim deseje
Minha presença notar
Não fique me procurando
Comece ao seu irmão amar.

Trajano fica surpreso
Com a estranha situação
Faz a Deus uma pergunta:
- Deus, qual a melhor religião?
E escuta uma resposta
Pra tirá-lo da aflição.

- Eu entendo perfeitamente
Este teu intenso clamor
Mas não tenha nem sinta
Dúvida, raiva ou rancor
A única que eu considero
É o sentimento do amor.

Você pode ter certeza
Que existem vários caminhos
As religiões são livres
Tais quais são os passarinhos 
Para viverem este amor
Cada uma do seu jeitinho.

O tinhoso ouvindo tudo
Saiu bem depressa de lá 
Não quis nem dar uma palavra
Para Deus não lhe notar
Porque se houvesse contenda
Ele iria se complicar.

E depois deste momento
Trajano não duvidou
Da existência de um Deus
Que pra ele manifestou
Lhe tirando do aperreio
Quando Nele acreditou.

Quando qualquer um quiser
Sentir Deus pessoalmente
Basta demonstrar ter amor
Por alguém profundamente
Que Ele estará também
Ao seu lado eternamente.

Se você um dia quiser
Ao lado de Deus ficar
Não compre vaga no céu
Busque pessoas para amar
Praticando a caridade
E começando a perdoar.

Se você pessoalmente
Também se sente um ateu
Não fique preocupado
Deus a ti nada prometeu
Jesus é misericordioso
O céu também será teu.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Ateu Trajano - Parte III



Quando eles se deram conta
Perderam sua compostura
Foram procurar bem longe
Fora desta estrutura
Resolveram até apelar
Para o uso da acupuntura.

A medicina chinesa
Não ajudou nem atrapalhou
Depois de muitas sessões
Ela foi quem se afastou
Voltando para sua terra
Onde tudo começou.

A esposa foi aconselhada
Naquela situação grauda
A tomar um chá misterioso
De hortelã da folha miuda
Mas para fazer depressa
Se não ia ela ficar pra sauva.

Fez com pressa e devagar
A milagrosa bebida
Tomou no almoço e jantar
Fez vitamina e batida
Usou tanto que ficou
Com a mão toda dolorida.

Vivendo esta tormenta
Quase que a esposa pira
Depois de tanto sofrer
Foi buscar lá no caipira
Um remédio milagroso
No miolo da sucupira.

Testou caule, testou folha
Mas a dor só permanecia
Usava chá, comia a raiz
Quanto mais usava, mais doia.
Usou tanto que entojou
Quase que ela enlouquecia.

A mulher já bem cansada
E com grande frustração
Resolveu ir buscar ajuda
Em outra peregrinação
Procurando rezar um terço
No meio de uma procissão.

Depois de sua caminhada
Suas pernas foram doendo
Foi deitando-se na cama
Com os membros endurecendo
Seu marido foi chamado
Trouxe um pastor correndo.

Ele foi buscar um pator
Porque lhe deram um conselho.
Sem ter quem fosse ajudar
Foi buscar no destrambelho
Pois agora qualquer um
Poderia meter o bedelho.

O pastor pediu para ela
Suas mãos ir levantando 
Começou uma oração forte
E a Deus o pastor foi clamando
Dizendo que no outro dia
Ela iria se lavantando.

Quando Trajano acordou
Não dava para ver o dia
Ansioso para ver a cura
Que o pastor lhe prometia
Foi quando percebeu que
Os braços ela nem mechia.

Ele ficou estupefacto
Sem saber como fazer
Recebeu mais informação
De como se proceder 
Levá-la num centro espírita
Pra cirurgia receber.

Trajano levou sua esposa
Lá onde fora marcado
Começando o ritual
O médium ficou calado
Quando tudo terminou
Disse: - Foi finalizado.

Quando voltou para casa
Ai foi que ele percebeu
Deitando ela na sua cama
Ajeitando tudo seu
Que não deu mais uma palavra
Porque ela quase morreu.

Trajano nesse instante
Foi a situação entender.
Vendo a sua amada esposa
Naquele eterno sofrer
Por mais que fizesse só
Sozinho não iria vencer.

CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA